
Somente há uns dois anos atrás tive a oportunidade de ver e ouvir atentamente um DVD de Yanni, de nome “Tribute”, de um show que foi gravado nos dois lugares onde foi apresentado, em 1997: no Taj Mahal, em comemoração aos 50 anos de independência da Índia e na Cidade Proibida da China. Tal experiência tocou tão profundamente a minha alma, aquela música diferente, me fazia chorar e rir ao mesmo tempo. E o próprio DVD fala de como ele compõe, do significado da música para ele, e identifiquei-me com tudo, mas não sabia ainda dizer o quanto isto iria me influenciar, no sentido de buscar dentro de mim, a minha música mesmo não sendo uma compositora, mas como intérprete, a minha maneira de fazer o diferente, de tudo o que já havia feito antes. Mergulhei em mim, com esta vontade de transformação interior para esta renovação. E hoje, enfim, vejo um projeto que estou trabalhando juntamente com uma equipe de adeptos, músicos, produtores e amigos, que possivelmente levaremos para fora do país, mas antes faremos um show aqui mesmo em Aracaju, no próximo dia 31 de julho. A todos os que estão comigo neste objetivo, manifesto aqui a minha mais profunda gratidão. E transcrevo abaixo palavras de sabedoria que, dentre outras coisas, me motivaram neste encontro de transformação, porque tudo começa dentro de nós, para que se materialize.
Naropa era um grande erudito, um grande sábio, tinha milhares de discípulos. Um dia estava sentado, com milhares de escrituras antigas e raras à sua volta. Ele acabou adormecendo, pois estava muito cansado, e teve uma visão.
Ele viu uma mulher velha, extremamente velha, horrorosamente feia - uma bruxa. Ela era tão feia que ele começou a tremer no sonho. Era tão nauseante que ele queria escapar, mas para onde poderia ir? Estava preso, como se hipnotizado pela bruxa. Seus olhos eram magnetos. “ O que você está estudando?” perguntou a velha.
“Filosofia, religião, epistemologia, linguagem, gramática, lógica”, ele respondeu.
A velha tornou a falar:
“Você entende tudo isso?”
Naropa disse que sim, é claro que entendia.
“Mas você entende as palavras ou o sentido?” perguntou novamente a velha.
Já haviam perguntado milhares de coisas a Naropa, em sua vida, milhares de estudantes, sempre perguntando, questionando. Contudo, ninguém havia perguntado isso: se ele entendia as palavras ou o sentido. E os olhos da mulher eram penetrantes, olhos que iam ao mais fundo do ser, era impossível mentir para ela. Para qualquer outro ele teria dito que entendia o sentido, obviamente, mas para essa mulher, essa mulher medonha, ele tinha que dizer a verdade:
“Eu entendo as palavras.”
A mulher ficou muito feliz. Começou a dançar e a rir, e sua feiúra se transformou : uma beleza sutil começou a surgir nela. Naropa pensou: “Ela ficou tão feliz. Por que não deixá-la ainda mais feliz?” Então ele disse:
“ Mas também estou entendendo o sentido.”
A mulher parou de rir e de dançar. Começou a chorar e toda a sua feiúra voltou, mil vezes pior. Naropa perguntou:
“Porque você está chorando? E por que estava rindo e dançando antes?”
Ela respondeu:
“Estava feliz porque um grande erudito como você não havia mentido. Mas agora estou chorando porque mentiu para mim. Eu sei, e você sabe, que você não entende o sentido.”
A visão desapareceu e Naropa havia sido transformado. Fugiu da universidade e nunca mais tocou em uma escritura em sua vida. Tornou-se completamente ignorante, pois entendeu que a mulher não era ninguém de fora, era apenas uma projeção. Era o próprio SER de Naropa que, através do conhecimento, havia se tornado tão feio. Bastou essa pequena compreensão, a de que ele não entendia o sentido, para que a feiúra se transformasse em algo belo.
A visão de Naropa é muito significativa. A menos que você sinta que o CONHECIMENTO é inútil, você nunca estará à procura da SABEDORIA. Você irá carregar a moeda falsa, pensando tratar-se de um tesouro verdadeiro. Você precisa perceber que o conhecimento é uma moeda falsa, pois não é conhecer, não é saber. No máximo o conhecimento é algo intelectual: o mundo foi entendido, mas o sentido se perdeu.
A verdade é sua própria experiência, sua própria visão. Mesmo que eu tivesse visto a verdade e a contasse a você, no momento em que eu a contar, ela se tornará uma mentira para você, não uma verdade. Para mim, era uma verdade, para mim veio através dos olhos. É minha visão. Mas não será sua visão, será algo emprestado. Será uma crença, SERÁ CONHECIMENTO, MAS NÃO SABER. E, se você começar a acreditar nela, estará acreditando em uma mentira.
Então lembre-se: mesmo uma verdade se torna uma mentira se entrar em você pela porta errada. A verdade precisa entrar pela porta da frente, pelos olhos. A verdade é uma visão, precisa ser vista com seus próprios olhos.
Osho em “O Livro da Transformação”.