Estava na metade do dia, antes de ir trabalhar, quando recebi uma mensagem de e-mail da minha amiga Lourdes Gallagher, que me informava de uma apresentação, em Orlando, para a seleção do Projeto Talento Brasil 2011, e, em várias cidades neste país. Era uma quinta feira, e, coincidentemente, dentre as cidades onde haveriam as seleções, a mais próxima de Sarasota, onde eu vivia, era Orlando, e esta tal seleção seria no sábado, à tarde. Nem pensei em mais nada, e, de imediato, entrei no link sugerido para inscrição, e fiz tudo conforme orientação. De imediato recebi a confirmação eletrônica, e, no dia seguinte, recebi a confirmação por telefone. Procurei Lourdes para saber se ela estaria disposta a ir comigo, e, ela me confirmou que sim, e ainda, que o Melvin Fingerut, meu amigo que se confessa meu fã, e exagera dizendo que Eliane Elias é sua intérprete favorita, depois de mim...rsrsrs...adorou a idéia de ir também e nos levar.
Fomos, a viagem foi maravilhosa, e o show foi muito bom, mas algo me frustrou. Os candidatos à categoria de cantores, na sua maioria jovens e mulheres, tinham belíssimas vozes, mas todas buscaram cantar hits americanos, na maioria canções gravadas por Mariah Carey, Celine Dion, como vemos nos progrmas de calouros de Raul Gil e outros...isto me levou a reflexão, após ouvir do Melvin que a cultura americana é forte...ok, sei que é, mas porque num projeto Talento Brasil não se priorizar mostrar a nossa cultura? Porque os jovens, quando chegam nos Estados Unidos ficam sem referência cultural do nosso país, e buscam somente assimilar o que vem do povo americano. E tudo começa até pelo idioma, porque algumas crianças e jovens brasileiros que aqui vivem, sequer falam português, e os que falam não escrevem nem lêem.
Então eu fui a única cantora que cantei música brasileira, “Verde” de Eduardo Gudin e Costa Netto. Os cantores masculinos foram apenas dois; um jovem que cantou um funk e um cinquentão como eu que cantou um pagode romântico. Não vi muita chance de ser selecionada para a final, em meio a tantas outras seleções em todo o país, mas isso não me foi o pior. O pior foi a triste constatação de que, de um modo geral não temos muito orgulho da nossa cultura, o que é lamentável, porque a cultura brasileira, e a música de uma forma muito especial, é muito rica, e linda! Cerca de 90% do meu público aqui, até o momento, tem sido de americanos, que, como o Melvin, se encantam com a nossa música, e procuram conhecê-la o máximo que podem. O Melvin está aprendendo português com a Lourdes, e vai para o Brasil falando português. Quando eu estava no Brasil, também cantava músicas em inglês, não somente porque cresci assimilando as duas culturas, por causa do meu pai que era americano, como também porque canto algumas canções italianas, francesas, espanholas, e cantaria em qualquer outro idioma que eu pudesse entender o que estivesse cantando, desde que a música me agrade e me toque a alma. A arte é universal, não devem haver fronteiras para nada, mas a riqueza dela consiste sim nessa troca, e em preservarmos o que assimilamos, procurando enriquecer esses traços culturais que fizeram nossa história, para que não se perca.
Este é o link para você escutar uma canção de natal que gravei de Hugo Costa: "O Boi e o burro de Belém".