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Saturday, March 27, 2010

Tentando matar as saudades...Dói, Dói






Oi, amigos, pois é, estou aqui pra tentar matar um pouco as saudades, e, falando em saudades, deixo aqui uma foto de João Mello, compositor de Dói dói, música que aqui está tocando pra vocês, o qual nos deixou no último dia 05 de janeiro. Tentei vir aqui para escrever muitas coisas sobre João Mello, e sei que por mais que escrevesse, não conseguiria esgotar o que ele é, e representa para todos nós. Sim, digo é, porque ele ainda é presente nos corações e na memória de todos, bem como a sua música e tudo o que fez. Além de todo o carinho, admiração que tenho por ele e por todos os seus familiares, lhe tenho a mais profunda gratidão por ter me dado a oportunidade de gravar esta linda música, e por tudo o que fez. Tenho aqui, nos meus arquivos, dentre muitas coisas , o DVD de uma longa entrevista que dei no seu Videoteca Aperipê, logo após a gravação do meu "Leoa", um programa que ele apresentava na afiliada da Rede Cultura em Aracaju, e que sempre que posso assisto, pra aliviar um pouco a saudade imensa.
Pois é, meus queridos, a gente que parte em busca da realização de um sonho, como eu, e me separei daqueles que fizeram parte de toda a minha história ao longo de 56 anos de minha vida, tem que aprender a conviver com esta companheira que se chama saudade, ah! saudade.
Estive fazendo uma temporada no Restaurant Suzette, fina culinária francesa, aqui em Sarasota, ao lado do tecladista americano Robbie Rose, e, atualmente estou numa pausa por conta de uma alergia ao pólen, que se concentra no ar em grande quantidade nesta época de primavera do hemisfério norte, o que me deixou rouca, mas logo estarei boa, em forma, podem ter certeza.
Nem sempre tenho tido tempo de estar aqui na internet, ultimamente, mas sempre que me for possível virei aqui, pra ficar um pouco mais perto de vocês.
e, por falar em saudades, coloco aqui, um lindo texto de Clarisse Lispector, que enviei para muitos dos meus contatos, mas vale a pena publicá-lo outra vez.

Saudades

Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.
Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,
quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,
eu sinto saudades...

Sinto saudades de amigos que nunca mais vi,
de pessoas com quem não mais falei ou cruzei...

Sinto saudades da minha infância,
do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro,
do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser...

Sinto saudades do presente,
que não aproveitei de todo,
lembrando do passado
e apostando no futuro...

Sinto saudades do futuro,
que se idealizado,
provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser...

Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!
De quem disse que viria
e nem apareceu;
de quem apareceu correndo,
sem me conhecer direito,
de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.

Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito!

Daqueles que não tiveram
como me dizer adeus;
de gente que passou na calçada contrária da minha vida
e que só enxerguei de vislumbre!

Sinto saudades de coisas que tive
e de outras que não tive
mas quis muito ter!

Sinto saudades de coisas
que nem sei se existiram.

Sinto saudades de coisas sérias,
de coisas hilariantes,
de casos, de experiências...

Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia
e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!

Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!

Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar,

Sinto saudades das coisas que vivi
e das que deixei passar,
sem curtir na totalidade.

Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que...
não sei onde...
para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi...

Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades
Em japonês, em russo,
em italiano, em inglês...
mas que minha saudade,
por eu ter nascido no Brasil,
só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota.

Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria,
espontaneamente quando
estamos desesperados...
para contar dinheiro... fazer amor...
declarar sentimentos fortes...
seja lá em que lugar do mundo estejamos.

Eu acredito que um simples
"I miss you"
ou seja lá
como possamos traduzir saudade em outra língua,
nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha.

Talvez não exprima corretamente
a imensa falta
que sentimos de coisas
ou pessoas queridas.

E é por isso que eu tenho mais saudades...
Porque encontrei uma palavra
para usar todas as vezes
em que sinto este aperto no peito,
meio nostálgico, meio gostoso,
mas que funciona melhor
do que um sinal vital
quando se quer falar de vida
e de sentimentos.

Ela é a prova inequívoca
de que somos sensíveis!
De que amamos muito
o que tivemos
e lamentamos as coisas boas
que perdemos ao longo da nossa existência...

Clarice Lispector

Amor e luz, sempre,
Beijos,
Gwen
Namastê!